Laura Fatio
São Paulo, Brasil
1989
A história da família de Laura Fatio em terras brasileiras começou quando o avô materno, suíço que morava na Alemanha, decidiu imigrar para o Brasil após a Primeira Guerra Mundial.
“Eles perderam tudo, a família só tinha dinheiro para comprar um pão por dia”.
Com raízes na suíça francesa e parte da família vivendo hoje em Berna e Zurique, Laura Fatio fez o caminho inverso do avô e foi morar na Suíça.
Formada em Ciências Políticas pela Universidade de Zurique, ela estudou na Escola Suíço-Brasileira e cresceu entre as duas culturas, com os costumes suíços bem fortes.
Pensava em trabalhar com desenvolvimento social, mas escolher pela formação foi difícil. Começou a estudar International Management, mas o curso era voltado apenas para os negócios. Passou para Geografia, mas não era a geografia física que queria, mas a humana, a questão do desenvolvimento e da igualdade. Então, descobriu as Ciências Políticas.
“Amei demais. Consegui me formar tanto em Ciências Políticas quanto em Geografia e comecei a trabalhar no departamento de pesquisa da universidade, auxiliando um pós-doutorado sobre mudanças climáticas.”
Voltou para o Brasil em 2017, já envolvida com o Terceiro Setor. Depois, foi para a organização Médicos sem Fronteiras (MSF) para trabalhar com causas humanitárias, o grande objetivo de sua vida.
“Sempre tive conexão com a causa dos refugiados e tinha feito trabalhos voluntários. Enquanto estava na MSF, militei com o Fernando Rangel, meu parceiro de vida, iniciamos um trabalho voluntário de acolhimento e formamos um grupo em Belo Horizonte. Quando vimos, já tínhamos mais de 70 pessoas apaixonadas pela nossa ideia, um projeto bem estruturado e achamos que era preciso transformar isso numa organização.”
Dessa paixão nasceu o Refúgio 343, idealizado por Fernando Rangel, do qual Laura é cofundadora. Sediado em Boa Vista/RO, é uma organização humanitária dedicada à reinserção socioeconômica de migrantes e refugiados em território nacional e compõe a Operação Acolhida, liderada pelas Forças Armadas do Brasil, em parceria com organizações de ajuda aos refugiados.
“A grande maioria dos refugiados é venezuelana. A crise humanitária da Venezuela é hoje o maior desafio migratório do hemisfério ocidental. Fazemos o processo de interiorização, a estratégia de deslocamento planejado para a integração das famílias que procuram refúgio no Brasil. Já estamos em 120 cidades de 17 estados, com mais de 1.300 pessoas resgatadas e 68% das famílias empregadas. Nossa meta não é simplesmente tirar a pessoa daqui e levar para outra cidade, mas monitorar e assegurar que as famílias se integrem na sociedade”.
A interiorização passa pela educação e o Refúgio tem uma escola na Operação Acolhida: “Somos a única agência a oferecer um programa educacional, com currículo que inclui aulas de português, informática, direito trabalhista, capacitações técnicas e adaptação cultural”.
Laura gerencia a captação de recursos do Refúgio: “Somos financiados por empresas, fundações, temos um programa de investimento social privado e trabalhamos também com editais.”
Foi por meio de um edital que tiveram ajuda da Embaixada da Suíça.
“Fomos selecionados para o projeto da horta comunitária. Construímos a horta dentro de um abrigo local, demos aulas e trouxemos um agrônomo para fazer um workshop. Com o dinheiro, montamos ainda uma sala de informática”.
E da parceria com empresas a organização garantiu recentemente vagas de emprego para 50 refugiados e migrantes venezuelanos, incluindo deficientes auditivos que estavam em situação ainda mais vulnerável em Roraima: “Fizemos todo o processo seletivo e capacitação dentro da Escola Refúgio, para que eles estivessem prontos para o emprego na Aurora Alimentos, em Santa Catarina.”
O Refúgio 343 tem muitas histórias de pessoas que deixaram o país, a fome e até filhos para trás. Com a ajuda humanitária esses migrantes podem sonhar com um novo recomeço de vida.