Anita Guidi

Friburgo, Suíça
1890 – 1978
Na reportagem intitulada O inferno verde cativo num pincel, publicada no jornal carioca A Noite, em junho de 1946, a pintora suíça Anita Guidi é descrita como a primeira mulher branca a pisar solos virgens da Amazônia.
“Nunca me esqueci da emoção do dia em que, pela primeira vez, eu, com o meu guia, me aproximei passo a passo, da maloca dos índios, da primeira que encontramos em nosso caminho dentro da floresta amazônica. Foi um grande momento aquele para mim, como prova para os nervos, como aventura, como um gênero inédito de emoção”, relatou a pintora.
Natural de Friburgo, Anita Guidi nasceu em 1890. Formou-se nas artes com o pintor suíço Joseph Reichlen. Depois, estudou na Itália, Londres, Paris e Berlim para aperfeiçoar sua técnica.
Em 1939, quando eclodiu a Segunda Guerra Mundial, deixou a Suíça para realizar a grande aventura de sua vida: uma expedição para conhecer a Amazônia. Com o dinheiro da venda de seus quadros e de todos os seus bens, partiu de navio de Lisboa para o Rio de Janeiro.
Ali, conheceu pessoas indispensáveis à realização de seu projeto, como o suíço Armin Edwin Caspar, que já realizara expedições de pesquisa na Amazônia para o governo brasileiro e havia trabalhado diretamente com o Marechal Cândido Rondon. Caspar tomou as providências necessárias para que ela pudesse entrar em território indígena. Depois, ele se tornaria o seu guia na expedição.
Finalmente, quatro anos depois, com farto material de pintura na bagagem, ela vende mais uma vez tudo o que tem e está pronta para empreender a expedição planejada. Em Belém, enquanto espera pelas autorizações, recebe convite do governador do Estado do Pará para retratar os bairros da cidade, encomenda que aceita e que reforça o financiamento da expedição.
A estada em Belém ajuda a pintora a se aclimatar e a conhecer os mosquitos que a partir dali serão companhias inevitáveis.
De acordo com o relato de seu guia, muitas vezes, nuvens de insetos se atiravam de encontro às telas, ficando presos ao óleo fresco, quase pondo tudo a perder.
“A noite na Amazônia é qualquer coisa de imenso, que pede o silêncio de quem a vê. E o crepúsculo? É tão triste, tão grande, parece um grito. E rico de cores como nunca mais verei”, diz Anita ao relatar que dormiam em redes penduradas nas árvores, com uma fogueira embaixo, guardada pelos índios.
Anita Guidi pintou cerca de duzentas telas na Amazônia, retratando a grandeza, as cores, a luz e a atmosfera daquela região.
Quando voltou para a Suíça, a pintora seguiu com sua arte. Depois de aposentada, mudou para um chalé na região de Gruyère, a que deu o nome de ‘la Maloca’, referência e homenagem ao tempo em que passou com os índios brasileiros.
Anita Guidi faleceu em 1978 sem deixar herdeiros.